A Síndrome de Down é causada por
uma anomalia genética (trissomia do cromossomo 21). As crianças com
Síndrome de Down têm um atraso no desenvolvimento global, que se
manifesta também na aquisição da linguagem. O desenvolvimento da fala,
bem como de todo o processo de comunicação, depende de vários fatores
orgânicos, ambientais e psicológicos, que estão presentes desde os
primeiros dias de vida.
O atraso
na aquisição da fala e linguagem constitui um dos maiores problemas
encontrados pelos pais de crianças com Síndrome de Down. A assistência
de um profissional especializado nos problemas de comunicação
(fonoaudiólogo) é muito importante para auxiliar a família a verificar
as dificuldades da criança e orientar quanto à melhor forma de
estimulá-la em casa. De fato, muitos pesquisadores observaram que os
cuidados e a estimulação que a criança recebe no ambiente familiar são
muito importantes no aprendizado da fala, pois na maior parte do seu
tempo a criança está com a família.
Convém
salientar que, mesmo com a ajuda de profissionais e estimulação no
ambiente familiar, a criança com Síndrome de Down necessita de um
período bastante prolongado para comunicar-se com um bom vocabulário e
articulação adequada das palavras.
O início da comunicação
É importante saber que a comunicação não se faz só com palavras, mas também com gestos e expressões afetivas.
A
criança comunica-se com o mundo muito antes de falar. O recém-nascido
produz vários sons diferentes que não são considerados como uma
linguagem propriamente dita, mas que não deixam de ser formas de
comunicação. Essa fase é denominada pré-linguística, ou seja, a fase que
vem antes da aquisição da linguagem em si.
O
choro é praticamente o único som que o bebê emite até aproximadamente
um mês de idade, juntamente com bocejos, espirros, soluços e murmúrios.
Geralmente, o choro tem características diferentes dos outros tipos de
desconforto e com o tempo a mãe passa a perceber a diferença. È através
do choro que a criança pode “dizer” o que está sentindo e essa é a forma
de mostrar aos pais que alguma coisa não está bem.
Desde
que o bebê nasce, necessita de pessoas ao seu lado, para satisfazer
suas necessidades físicas e psicológicas. Deve-se conversar muito com o
bebê, chamá-lo sempre pelo seu nome e manter bastante contato corporal e
visual. Pegue-o no colo, acaricie-o, beije-o, repita os sons que ele
fizer, mantenha contato olho a olho.
O
contato de olho e o sorriso também são formas de linguagem usadas pelo
bebê. Durante as brincadeiras em que você mantém contato de olho e sorri
para ele e ele sorri e olha para você, ele está se comunicando, e este
pode ser considerado o primeiro passo no seu desenvolvimento.
Á
medida que a criança se desenvolve, ela começa a responder aos gestos e
palavras da mãe e de outras pessoas. Ela pode dar pegar, mostrar e
reagir aos objetos e pessoas. Dessa forma, a criança participa do
ambiente antes de ter o domino das palavras.
Balbucio
Com aproximadamente um mês, o
bebê passa a emitir alguns sons como, por exemplo, prolongar uma mesma
vogal (aaaaaaaaa). Estes sons são notados geralmente em situações de
bem-estar, quando a criança não está com fome, sono ou qualquer tipo de
desconforto e parece estar brincando com sons.
Com
o passar dos meses, o bebê começa a emitir uma variedade maior de sons,
inclusive consoantes. Geralmente ele combina uma vogal com uma
consoante e acaba produzindo uma sílaba repetidamente (dadadadada). Esse
período é chamado balbucio e é uma fase importante no processo de
desenvolvimento da linguagem da criança. Esta é a maneira de praticar o
uso de seus lábios, língua e músculos envolvidos na produção da fala,
preparando-se para realmente falar mais tarde.
Assim,
quanto mais você conversar com seu bebê, sorrir para ele e prestar
atenção no momento em que ele está vocalizando, provavelmente ele
balbuciará mais.
Nessa fase, o
bebê ainda não entende as palavras que ouve. Ele começa a prestar
atenção e a interpretar os tons de voz e a intensidade. Ele começa a
conhecer que você grita quando está nervosa e que usa uma voz calma e
suave, quando está alegre e calma. Ele repete, balbuciando, o tom da
fala que ouve à sua volta.
O bebê
com Síndrome de Down parecem ser menos responsivos para as palavras
ditas pela mãe, assim como para estimulações não-verbais, como sorrisos,
caretas, gestos. Normalmente eles sorriem e vocalizam menos do que os
outros bebês. Apesar disso, você deve agir normalmente, conversando
bastante com ele, respondendo aos sons que ele fizer como se fosse uma
conversa em que cada um tem a sua vez, relacionando essa “conversa” à
rotina do bebê (alimentação, banho, trocas de fralda, passeios).
Faça
exercícios de estimulação auditiva, ou seja, incentive a criança a
prestar atenção nos diferentes tipos de som. Chame sua atenção para os
barulhos de casa, como: os do relógio, do telefone, de animais, do
trânsito na rua, avião; faça na sua frente sons diferentes com chocalho,
feijão dentro de uma lata, sino etc.
Quando
o bebê estiver com aproximadamente dez meses, você pode começar a
estimulá-lo a estalar a língua imitando o trote do cavalo, vibrar os
lábios imitando o barulho do carro, jogar beijo fazendo bico com os
lábios, assoprar penas, bolinhas de isopor, apito, corneta e, mais
tarde, bexiga.
Gestos
Antes de o bebê começar a falar
as primeiras palavras, ele usa bastante comunicação não-verbal para
fazer com que outra pessoa entenda o que ele quer. Você poderá começar a
interpretar a expressão de seu rosto, que pode mostrar surpresa,
felicidade, curiosidade tipos de choro (de fome, de medo etc). Depois,
ele passa a utilizar alguns gestos específicos, tais como acenar para
dizer “tchau”, apontar para dizer “olhe” ou “o que, é aquilo”, estender
os braços para dizer “me pegue no colo” etc. O uso desses gestos se
desenvolverá lentamente, muitas vezes em conseqüência de imitação de
ações dos adultos.
È bom lembrar
que os gestos poderão ser usados pelos pais para ajudar a criança a
entender e a usar a linguagem falada, ou seja, eles funcionam como um
auxílio, um apoio e não como meio de substituir a fala.
Os
gestos permitem que a criança se comunique antes de conseguir falar,
mas você deve falar sempre. Ajude-a a tentar dar respostas verbais. Os
gestos devem ser usados sempre acompanhados de fala e você pode começar a
introduzi-los antes de um ano. Os primeiros gestos (sinais) podem ser
relacionados às palavras que são mais significantes para uma criança
pequena, tais como os membros da família, as coisas relacionadas ao
dia-a-dia, como “comer”, “beber”, “dormir” etc.
As primeiras palavras
A partir de situações da fase pré-linguística, dos gestos, aos poucos a criança começa a entender o significado da fala.
Para
aprender a falar, a criança tem que perceber todos os sons feitos pelos
adultos e o significado de cada palavra. Assim, as palavras que ela
ouve mais frequentemente serão as que ela entenderá primeiro. Estas
palavras geralmente são nomes de pessoas, brinquedos e objetos que são
importantes na sua vida diária.
Nessa
fase onde a criança se comunica através de uma palavra, é importante
lembrar que no início ela usa a palavra simplesmente para dar nome aos
objetos, mas depois passa a usar palavras únicas, querendo transmitir o
significado de toda uma sentença.
Nota-se
diferença entre as crianças com relação ao número de palavras únicas
que elas possuem e quanto ao período de tempo que elas levam para
começar a juntar duas palavras.
Juntando duas palavras e formando sentenças
Depois que a criança passa pela
fase de se comunicar através de uma única palavra, ela começa a juntar
duas palavras. Por exemplo, sapato – nenê, mais – água, caiu – chão
etc.; porém é difícil dizer a época em que isso vai ocorrer.
Após
essa fase, que é variável de criança para criança, ela começa a usar
sentenças maiores, usado três, quatro e mais palavras. È nessa fase o
domínio da linguagem vai se tornando mais difícil para a criança com
Síndrome de Down. As dificuldades com a construção de sentenças e com
uso de regras gramaticais vão aumentando. Geralmente, ela entende muitos
tipos se sentenças interrogativas ou negativas, mas não consegue
construí-las sozinha.
Ela compreende muito mais do que é capaz de produzir
Algumas pesquisas mostram que a
criança pode falar mais fácil e claramente, quando ela imita palavras
que acabaram de ser ditas por uma outra pessoa, do que quando ela
própria tem que lembrar as palavras para dizer o que quer. Por exemplo, a
criança pode conhecer o nome de vários objetos e até ser capaz de
dizê-los quando alguém pergunta, mas quando ela precisa se comunicar
usando determinado nome dentro da frase, a dificuldade aparece.
É
preciso considerar também que a criança apresenta problemas
articulatórios, ou seja, falar corretamente palavras é uma dificuldade
para a maioria das crianças com Síndrome de Down. Então, falar em
sentenças, mesmo curtas, é mais difícil do que usar palavras soltas, já
que seu problema articulatório aumenta quando está emitindo sentenças.
Por
isso, é importante que você fale devagar, repita as palavras e frases
que ela disser errado, para que ela ouça a pronúncia correta.
Depois,
estimule a criança a repetir mais lenta e claramente essas palavras e
frases, sem forçá-la, sem fazer disso uma tarefa cansativa.
Facilitando a comunicação
Você pode ajudar muito a criança
usando o que chamamos de fala descritiva, ou seja, descrevendo o que a
criança está fazendo ou olhando naquele momento. Dessa forma, a criança
começa a compreender o significado da palavra mais facilmente, pois a
situação de aprendizado é concreta e está relacionada a algo real. Faça
com que a fala fique centralizada nela, isto é, fale sobre o que ela
quer fazer ou está fazendo.
Durante
todo o dia você tem muitas oportunidades para estimular a linguagem da
criança, depois numa boneca, numa figura de revista, numa fotografia
etc. É importante ensinar uma coisa de cada vez e só passar para a
seguinte quando a criança já tiver aprendido o que foi ensinado. Nas
refeições, ensine o nome dos alimentos, se são duros ou moles, se estão
quentes ou frios. Quando estiver vestindo a criança, nomeie as roupas
para ela. Por exemplo: “Agora vamos colocar a blusa vermelha”, diga se a
roupa é para o frio ou para o calor. È importante ensinar esses
conceitos para a criança o mais naturalmente possível, sem cobranças,
sem obrigar a criança a repetir tudo o que está sendo falado. A hora do
banho, da alimentação, do vestir-se, devem ser momentos agradáveis,
tranqüilos, de troca afetiva entre a mãe e a criança e não momentos de
cobrança.
Para ensinar nomes de
objetos, você pode pegar uma caixa grande e enche-la de objetos comuns,
como copo, chave, bola,carrinho etc. e ir aumentando o número de objetos
à medida que a criança já conhece, sabe como usar cada um deles e tenta
dizer o nome dos anteriores.
Uma
atividade muito importante e que oferece muitas oportunidades para que a
criança entenda e use linguagem é brincar com ela (de casinha, de
carrinho etc), onde a linguagem usada é depois transferida para a vida
diária. Você pode usar brinquedos ou os próprios objetos inquebráveis de
sua casa e ir dividindo a brincadeira em partes: hora do banho, hora da
refeição, hora da limpeza etc.
Procure
usar uma linguagem simples, palavras fáceis e curtas no início, depois
acrescente verbos (comer, dormir, lavar etc.), palavras mais longas,
conceitos como dentro, fora, em cima/embaixo e palavras de uso cotidiano
como oi, tchau, mais etc.
A
aprendizagem fica facilitada e a criança é capaz de memorizar mais
facilmente, quando ela pode ver o objeto ao qual está se referindo.
Assim, se for ensinar “molhado”, coloque a mão da criança sobre um
objeto molhado e um seco. Sempre que for ensinar adjetivos, ensine-os
por contraste, assim: seco/molhado, alto/baixo, forte/fraco,
gordo/magro. Não esqueça que a criança precisa ter tido muita
experiência com o que está sendo ensinado, para depois ser incentivada a
nomear.
Os pais poderão
aproveitar as brincadeiras para falarem na primeira pessoa do singular,
ou seja, usarem expressões como eu quero, eu comi, eu vou. Geralmente os
pais, amigos e professores estão estimando o uso da terceira pessoa do
singular ao falarem com a criança: você pode, Pedro comeu tudo, nenê vai
e a criança responde “quer” em vez de “quero”, “comeu” em vez de “comi”
e “vai” em vez de “vou”.
Mais
importante do que a criança repetir palavras e saber nomear vários
objetos, é conhecê-los bem, saber para que servem, observar as
diferenças que existem entre um e outro. Isso só é conseguido quando a
criança tem oportunidade de explorar os objetos, manuseá-los,
aprendendo, assim, através de coisas reais e concretas. Por isso é bom
levá-la à feira, ao supermercado, jardim zoológico, passeios etc, para
que ela possa vivenciar cada uma dessas experiências.
Evite
falar com a criança colocando as palavras no diminutivo. Isso prejudica
a discriminação e piora a inteligibilidade. As palavras devem ser ditas
inteiras à criança e não separadas em sílabas (como, por exemplo,
ta-pe-te) achando que isso facilita a compreensão. Ao contrário, isso
dificulta a aprendizagem.
É
importante não corrigir a fala da criança e sim devolver o modelo
correto. Por exemplo: se ela diz “qué chupa lalanza”, você não deve
dizer “não é lalanza que se fala, é laranja”. Isso pode intimidar a
criança e ela pode passar a não falar determinadas palavras. Então,
responda assim: “Ah, você quer chupar laranja? Eu vou pegar a laranja”,
para que ela perceba e escute a pronúncia correta da palavra, mesmo que
não seja capaz de emitir corretamente. Os pais devem reforçar a criança
quanto à pronúncia correta das palavras, quando ela já tem consciência
dessa pronúncia.
Quando a criança
emprega poucas palavras para expressar uma frase, como por exemplo:
“água”, significando “eu quero água” ou “água caiu”, você pode expandir a
fala dela de acordo com o significado daquele momento. Se perceber que
ela está querendo água, dia “Você quer tomar água?”. Se ela derrubou a
água: “A água caiu no chão?”. Fazendo isso você está permitindo que a
criança perceba as formas mais complexas da linguagem. Depois, ela
aprenderá a juntar outras palavras para formar a sentença.
Procure
não subestimar ou valorizar demais a capacidade da criança, utilizando
uma linguagem adequada ao seu nível de compreensão. Assim, você poderá
lhe proporcionar melhores condições de aproveitar o que é ensinado.
Evite completar a frase que a criança irá dizer, antes que ela tente
colocar todo seu pensamento em palavras.
Leia histórias infantis, para a criança aumentar seu vocabulário.
Procure
ler à noite, antes que ela vá para a cama, pois se ela estiver
interessada em outra atividade, a leitura não será estimulante.
Use
sempre histórias simples, livros com ilustrações grandes e coloridas e
texto pequeno em cada página. Fale sobre a gravura, mostre os detalhes
enquanto lê, deixe-a identificar figuras de objetos e animais que ela
conhece.
Cante músicas infantis
para ela. Se possível, obtenha discos infantis, mas dê somente um de
cada vez, para que ela se acostume e se familiarize bastante com cada
um.
A discriminação auditiva dos sons da fala
Muitas crianças com Síndrome de
Down apresentam trocas na fala, como: b por p, d por t, v por f, g por
c. Como esses sons são parecidos, desde cedo é necessário um trabalho de
discriminação auditiva. Os pais devem mostrar para a criança que esses
sons são diferentes, falando-os em oposição em sílabas e início de
palavras.
Por exemplo: pato x
bato, tia x dia, faca x vaca. É importante criança discriminar e falar
esses sons (b, d, g, v), pois mais tarde essas trocas na fala também
aparecerão na escrita, dificultando a alfabetização.
É
necessário lembrar que crianças com Síndrome de Down na mesma idade
podem estar em níveis diferentes na aquisição da fala. A orientação do
fonoaudiólogo é fundamental na escolha dos sons que deverão ser
estimulados primeiro. Com esse auxílio os pais não perderão tempo
solicitando da criança sons muito difíceis, que ainda não podem ser
emitidos por ela. Além disso, os pais também podem ser orientados quanto
às variações aceitáveis, de acordo com o desenvolvimento da criança.
A importância da alimentação no desenvolvimento da fala
Os órgãos que usamos para comer
são os mesmos que usamos para falar: lábios, língua, dentes, palato,
etc. Por isso, a alimentação tem um papel importante no desenvolvimento
da fala. Através dela podemos exercitar e estimular a musculatura da
boca e da face, que participa da produção dos fonemas(sons) que vão
formar as palavras.
Assim, desde
quando o bebê suga o seio materno ou a mamadeira (com furo pequeno no
bico ortodôntico) os músculos estão sendo exercitados para a fala. O
bico ortodôntico é o ideal, pois permite que o aleitamento artificial
(mamadeira) fique mais parecido com aleitamento natural (seio) em
relação ao formato do bico e força de sucção (figura 1), ou seja, a
força que o bebê precisa fazer para sugar o leite. Por isso, não deve-se
aumentar o furo do bico para facilitar a sucção – o bebê precisa fazer
força para exercitar a musculatura.
É necessário ter cuidado
especial com alimentação da criança, não somente com o aspecto
nutritivo, como também com o aspecto nutritivo, como também com a
consistência dos alimentos. Varie bastante a alimentação quanto à
textura, sabor e temperatura. Quando chegar a época de introduzir a
papinha (por volta dos seis meses) ao invés de bater os legumes no
liquidificador, passe-os por uma peneira fina.
Antes
de aparecerem os primeiros dentes, você já deve oferecer pedaços
sólidos de alimentos à criança, como bolacha, pão, banana, queijo etc, e
colocá-los na mão dela. Quando aparecerem os primeiros dentes, ao invés
de dar frutas raspadas, como maçã, por exemplo, dê um pedaço grande da
fruta à criança, incentivando-a a morder e mastigar.
Por
volta de seis ou oito meses, a sopa deve perder seu aspecto líquido e
conter pequenos pedaços de alimentos: a verdura (crua ou cozida) deve
ser picada, as raízes e legumes ligeiramente amassados, a carne,
desfiada ou moída, o ovo cozido em pequenos pedaços de alimentos do
prato com as mãos, se ela assim o desejar.
Ao
dar o alimento para a criança, use uma colher e pressione a ponta da
língua para baixo e para trás (a colher deve entrar sempre de frente) e
faça com que a criança tire o alimento da colher com o lábio superior. A
criança deve ficar com a língua dentro da boca, quando a mãe ou ela
própria colocar a colher (figura 2). É comum a criança jogar a cabeça
para trás quando a mãe dá o alimento. Se isso acontecer, segure
firmemente a cabeça da criança, colocando sua mão bem acima da nuca,
impedindo o movimento.
A partir dos noves meses, você
pode tentar introduzir o canudinho para tomar líquido no copo. Para
facilitar, no início coloque pouco líquido, use canudo curto e vire um
pouco o copo para o líquido sair mais facilmente. O uso do canudinho
para a ingestão de líquido ou mesmo de alimentos mais pastosos (como
gelatina, vitamina de frutas) é um bom exercício para a musculatura da
boca e face.
Aos poucos, procure
ir retirando a mamadeira e introduza o uso de copo. No início, a mãe
deve ajudar a criança a usar o copo corretamente (não colocando o copo
em cima da língua e sim sobre o lábio inferior) e com o tempo ir
diminuindo essa ajuda (figura 3). Sempre que puder use canudo, mesmo que
a criança saiba usar o copo.
Por volta de um ano a um ano e
meio, deixe a criança usar a colher sozinha, ajudando-a apenas no
movimento de pegar o alimento do prato e levá-lo à boca. Ela poderá
derrubar os alimentos da colher, mas deixe-a tentar. Diminua a ajuda
gradativamente. O prato da criança deve ser de material resistente, de
borda alta e deve ficar bem seguro na mesa. Nessa fase, se oferecer
chocolate, bala ou banana, deixe a própria criança tirar o papel dos
doces e descasar a fruta.
Entretanto,
não esqueça que as crianças com Síndrome de Down têm tendência a
adquirir peso facilmente. Por isso, não se deve dar-lhes doces em
excesso.
Com a primeira dentição
completa por volta dos dois anos, a criança deverá comer alimentos mais
duros como carne (bife) ou cenoura pouco cozida, para exercitar a
mordida e a mastigação. Os pais poderão estimular a lateralização da
mastigação, colocando pedaços de alimentos consistentes entre os dentes
laterais e estimular a mastigação do lado direito e esquerdo, um de cada
vez.
É importante que a criança
não engula logo o alimento; brinque com ela de comer salgadinhos fazendo
barulho como os dentes laterais por bastante tempo.
Em
relação à deglutição, os pais podem ensinar a criança a fechar a boca
quando engolir o alimento, sem projetar a língua para fora.
Para
a refeição não se tornar cansativa, a mãe deverá incentivá-la a engolir
com a boca fechada somente na primeira “colherada” ou “garfada”, depois
deixá-la comer livremente. Você poderá no início de refeição espirrar
água, suco ou refrigerante com uma bisnaga na boca criança (com a língua
dentro da boca e embaixo) e depois pedir para fechar a boca e engolir.
As crianças gostam dessa “brincadeira” com a bisnaga, que propicia uma
deglutição correta.
É importante
para o desenvolvimento da fala e linguagem que a criança participe das
refeições com a família. Assim ela tem oportunidade de escutar o que
está se conversando e até participar, quando já souber falar. Por isso,
use uma linguagem clara e converse de assuntos que a criança conheça e
se interesse.
As principais dificuldades da fala
Notou-se que em alguns aspectos
do desenvolvimento da fala, a criança com Síndrome de Down é semelhante
às outras crianças, atingindo seu potencial um pouco mais tarde.
Geralmente,
o aparecimento da fala compreensível ocorre por volta dos dois anos.
Por volta dos três anos, a criança começa a combinar as palavras para
formar pequenas frases, e mais tarde é capaz de organizar essas frases
em trechos maiores. Mesmo quando há um bom domínio da linguagem, ainda
persistem dificuldades, quando é necessário um nível de abstração mais
elevado do diálogo.
Crianças com
Síndrome de Down têm um desenvolvimento variado e é grande a diferença
em relação à linguagem. Geralmente esse desenvolvimento é lento.
Muitos
processos complicados no cérebro estão envolvidos na habilidade para
falar. Se o cérebro não trabalha corretamente, aprender a falar torna-se
uma tarefa muito difícil.
Crianças com Síndrome de Down podem ter algumas características que as predispõem às dificuldades na fala:
■
Hipotonia: a flacidez dos músculos faz com que haja um desequilíbrio de
força nos músculos da boca e face, ocasionando alterações na arcada
dentária, projeção do maxilar inferior e posição inadequada da língua e
lábios – com a boca aberta e a língua para fora. A criança respira pela
boca, o que acaba alterando a forma do palato (céu da boca). Esses
fatores, dentre outros, fazem com que os movimentos fiquem mal
coordenados e a articulação dos fonemas fique imprecisa e prejudicada.
■
Suscetibilidade às infecções respiratórias: essas infecções levam a
criança a respirar pela boca, aumentando a dificuldade para articular os
sons.
■ Pouca memorização de
seqüência de movimentos: a dificuldade para aprender seqüência de
movimentos faz com que as crianças com Síndrome de Down pronunciem a
mesma palavra de vários modos diferentes. Cada vez que dizem uma palavra
é como se a estivesse falando pela primeira vez.
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Síndrome de Down têm um atraso no desenvolvimento global, que se
manifesta também na aquisição da linguagem. O desenvolvimento da fala,
bem como de todo o processo de comunicação, depende de vários fatores
orgânicos, ambientais e psicológicos, que estão presentes desde os
primeiros dias de vida.
O atraso
na aquisição da fala e linguagem constitui um dos maiores problemas
encontrados pelos pais de crianças com Síndrome de Down. A assistência
de um profissional especializado nos problemas de comunicação
(fonoaudiólogo) é muito importante para auxiliar a família a verificar
as dificuldades da criança e orientar quanto à melhor forma de
estimulá-la em casa. De fato, muitos pesquisadores observaram que os
cuidados e a estimulação que a criança recebe no ambiente familiar são
muito importantes no aprendizado da fala, pois na maior parte do seu
tempo a criança está com a família.
Convém
salientar que, mesmo com a ajuda de profissionais e estimulação no
ambiente familiar, a criança com Síndrome de Down necessita de um
período bastante prolongado para comunicar-se com um bom vocabulário e
articulação adequada das palavras.
O início da comunicação
É importante saber que a comunicação não se faz só com palavras, mas também com gestos e expressões afetivas.
A
criança comunica-se com o mundo muito antes de falar. O recém-nascido
produz vários sons diferentes que não são considerados como uma
linguagem propriamente dita, mas que não deixam de ser formas de
comunicação. Essa fase é denominada pré-linguística, ou seja, a fase que
vem antes da aquisição da linguagem em si.
O
choro é praticamente o único som que o bebê emite até aproximadamente
um mês de idade, juntamente com bocejos, espirros, soluços e murmúrios.
Geralmente, o choro tem características diferentes dos outros tipos de
desconforto e com o tempo a mãe passa a perceber a diferença. È através
do choro que a criança pode “dizer” o que está sentindo e essa é a forma
de mostrar aos pais que alguma coisa não está bem.
Desde
que o bebê nasce, necessita de pessoas ao seu lado, para satisfazer
suas necessidades físicas e psicológicas. Deve-se conversar muito com o
bebê, chamá-lo sempre pelo seu nome e manter bastante contato corporal e
visual. Pegue-o no colo, acaricie-o, beije-o, repita os sons que ele
fizer, mantenha contato olho a olho.
O
contato de olho e o sorriso também são formas de linguagem usadas pelo
bebê. Durante as brincadeiras em que você mantém contato de olho e sorri
para ele e ele sorri e olha para você, ele está se comunicando, e este
pode ser considerado o primeiro passo no seu desenvolvimento.
Á
medida que a criança se desenvolve, ela começa a responder aos gestos e
palavras da mãe e de outras pessoas. Ela pode dar pegar, mostrar e
reagir aos objetos e pessoas. Dessa forma, a criança participa do
ambiente antes de ter o domino das palavras.
Balbucio
Com aproximadamente um mês, o
bebê passa a emitir alguns sons como, por exemplo, prolongar uma mesma
vogal (aaaaaaaaa). Estes sons são notados geralmente em situações de
bem-estar, quando a criança não está com fome, sono ou qualquer tipo de
desconforto e parece estar brincando com sons.
Com
o passar dos meses, o bebê começa a emitir uma variedade maior de sons,
inclusive consoantes. Geralmente ele combina uma vogal com uma
consoante e acaba produzindo uma sílaba repetidamente (dadadadada). Esse
período é chamado balbucio e é uma fase importante no processo de
desenvolvimento da linguagem da criança. Esta é a maneira de praticar o
uso de seus lábios, língua e músculos envolvidos na produção da fala,
preparando-se para realmente falar mais tarde.
Assim,
quanto mais você conversar com seu bebê, sorrir para ele e prestar
atenção no momento em que ele está vocalizando, provavelmente ele
balbuciará mais.
Nessa fase, o
bebê ainda não entende as palavras que ouve. Ele começa a prestar
atenção e a interpretar os tons de voz e a intensidade. Ele começa a
conhecer que você grita quando está nervosa e que usa uma voz calma e
suave, quando está alegre e calma. Ele repete, balbuciando, o tom da
fala que ouve à sua volta.
O bebê
com Síndrome de Down parecem ser menos responsivos para as palavras
ditas pela mãe, assim como para estimulações não-verbais, como sorrisos,
caretas, gestos. Normalmente eles sorriem e vocalizam menos do que os
outros bebês. Apesar disso, você deve agir normalmente, conversando
bastante com ele, respondendo aos sons que ele fizer como se fosse uma
conversa em que cada um tem a sua vez, relacionando essa “conversa” à
rotina do bebê (alimentação, banho, trocas de fralda, passeios).
Faça
exercícios de estimulação auditiva, ou seja, incentive a criança a
prestar atenção nos diferentes tipos de som. Chame sua atenção para os
barulhos de casa, como: os do relógio, do telefone, de animais, do
trânsito na rua, avião; faça na sua frente sons diferentes com chocalho,
feijão dentro de uma lata, sino etc.
Quando
o bebê estiver com aproximadamente dez meses, você pode começar a
estimulá-lo a estalar a língua imitando o trote do cavalo, vibrar os
lábios imitando o barulho do carro, jogar beijo fazendo bico com os
lábios, assoprar penas, bolinhas de isopor, apito, corneta e, mais
tarde, bexiga.
Gestos
Antes de o bebê começar a falar
as primeiras palavras, ele usa bastante comunicação não-verbal para
fazer com que outra pessoa entenda o que ele quer. Você poderá começar a
interpretar a expressão de seu rosto, que pode mostrar surpresa,
felicidade, curiosidade tipos de choro (de fome, de medo etc). Depois,
ele passa a utilizar alguns gestos específicos, tais como acenar para
dizer “tchau”, apontar para dizer “olhe” ou “o que, é aquilo”, estender
os braços para dizer “me pegue no colo” etc. O uso desses gestos se
desenvolverá lentamente, muitas vezes em conseqüência de imitação de
ações dos adultos.
È bom lembrar
que os gestos poderão ser usados pelos pais para ajudar a criança a
entender e a usar a linguagem falada, ou seja, eles funcionam como um
auxílio, um apoio e não como meio de substituir a fala.
Os
gestos permitem que a criança se comunique antes de conseguir falar,
mas você deve falar sempre. Ajude-a a tentar dar respostas verbais. Os
gestos devem ser usados sempre acompanhados de fala e você pode começar a
introduzi-los antes de um ano. Os primeiros gestos (sinais) podem ser
relacionados às palavras que são mais significantes para uma criança
pequena, tais como os membros da família, as coisas relacionadas ao
dia-a-dia, como “comer”, “beber”, “dormir” etc.
As primeiras palavras
A partir de situações da fase pré-linguística, dos gestos, aos poucos a criança começa a entender o significado da fala.
Para
aprender a falar, a criança tem que perceber todos os sons feitos pelos
adultos e o significado de cada palavra. Assim, as palavras que ela
ouve mais frequentemente serão as que ela entenderá primeiro. Estas
palavras geralmente são nomes de pessoas, brinquedos e objetos que são
importantes na sua vida diária.
Nessa
fase onde a criança se comunica através de uma palavra, é importante
lembrar que no início ela usa a palavra simplesmente para dar nome aos
objetos, mas depois passa a usar palavras únicas, querendo transmitir o
significado de toda uma sentença.
Nota-se
diferença entre as crianças com relação ao número de palavras únicas
que elas possuem e quanto ao período de tempo que elas levam para
começar a juntar duas palavras.
Juntando duas palavras e formando sentenças
Depois que a criança passa pela
fase de se comunicar através de uma única palavra, ela começa a juntar
duas palavras. Por exemplo, sapato – nenê, mais – água, caiu – chão
etc.; porém é difícil dizer a época em que isso vai ocorrer.
Após
essa fase, que é variável de criança para criança, ela começa a usar
sentenças maiores, usado três, quatro e mais palavras. È nessa fase o
domínio da linguagem vai se tornando mais difícil para a criança com
Síndrome de Down. As dificuldades com a construção de sentenças e com
uso de regras gramaticais vão aumentando. Geralmente, ela entende muitos
tipos se sentenças interrogativas ou negativas, mas não consegue
construí-las sozinha.
Ela compreende muito mais do que é capaz de produzir
Algumas pesquisas mostram que a
criança pode falar mais fácil e claramente, quando ela imita palavras
que acabaram de ser ditas por uma outra pessoa, do que quando ela
própria tem que lembrar as palavras para dizer o que quer. Por exemplo, a
criança pode conhecer o nome de vários objetos e até ser capaz de
dizê-los quando alguém pergunta, mas quando ela precisa se comunicar
usando determinado nome dentro da frase, a dificuldade aparece.
É
preciso considerar também que a criança apresenta problemas
articulatórios, ou seja, falar corretamente palavras é uma dificuldade
para a maioria das crianças com Síndrome de Down. Então, falar em
sentenças, mesmo curtas, é mais difícil do que usar palavras soltas, já
que seu problema articulatório aumenta quando está emitindo sentenças.
Por
isso, é importante que você fale devagar, repita as palavras e frases
que ela disser errado, para que ela ouça a pronúncia correta.
Depois,
estimule a criança a repetir mais lenta e claramente essas palavras e
frases, sem forçá-la, sem fazer disso uma tarefa cansativa.
Facilitando a comunicação
Você pode ajudar muito a criança
usando o que chamamos de fala descritiva, ou seja, descrevendo o que a
criança está fazendo ou olhando naquele momento. Dessa forma, a criança
começa a compreender o significado da palavra mais facilmente, pois a
situação de aprendizado é concreta e está relacionada a algo real. Faça
com que a fala fique centralizada nela, isto é, fale sobre o que ela
quer fazer ou está fazendo.
Durante
todo o dia você tem muitas oportunidades para estimular a linguagem da
criança, depois numa boneca, numa figura de revista, numa fotografia
etc. É importante ensinar uma coisa de cada vez e só passar para a
seguinte quando a criança já tiver aprendido o que foi ensinado. Nas
refeições, ensine o nome dos alimentos, se são duros ou moles, se estão
quentes ou frios. Quando estiver vestindo a criança, nomeie as roupas
para ela. Por exemplo: “Agora vamos colocar a blusa vermelha”, diga se a
roupa é para o frio ou para o calor. È importante ensinar esses
conceitos para a criança o mais naturalmente possível, sem cobranças,
sem obrigar a criança a repetir tudo o que está sendo falado. A hora do
banho, da alimentação, do vestir-se, devem ser momentos agradáveis,
tranqüilos, de troca afetiva entre a mãe e a criança e não momentos de
cobrança.
Para ensinar nomes de
objetos, você pode pegar uma caixa grande e enche-la de objetos comuns,
como copo, chave, bola,carrinho etc. e ir aumentando o número de objetos
à medida que a criança já conhece, sabe como usar cada um deles e tenta
dizer o nome dos anteriores.
Uma
atividade muito importante e que oferece muitas oportunidades para que a
criança entenda e use linguagem é brincar com ela (de casinha, de
carrinho etc), onde a linguagem usada é depois transferida para a vida
diária. Você pode usar brinquedos ou os próprios objetos inquebráveis de
sua casa e ir dividindo a brincadeira em partes: hora do banho, hora da
refeição, hora da limpeza etc.
Procure
usar uma linguagem simples, palavras fáceis e curtas no início, depois
acrescente verbos (comer, dormir, lavar etc.), palavras mais longas,
conceitos como dentro, fora, em cima/embaixo e palavras de uso cotidiano
como oi, tchau, mais etc.
A
aprendizagem fica facilitada e a criança é capaz de memorizar mais
facilmente, quando ela pode ver o objeto ao qual está se referindo.
Assim, se for ensinar “molhado”, coloque a mão da criança sobre um
objeto molhado e um seco. Sempre que for ensinar adjetivos, ensine-os
por contraste, assim: seco/molhado, alto/baixo, forte/fraco,
gordo/magro. Não esqueça que a criança precisa ter tido muita
experiência com o que está sendo ensinado, para depois ser incentivada a
nomear.
Os pais poderão
aproveitar as brincadeiras para falarem na primeira pessoa do singular,
ou seja, usarem expressões como eu quero, eu comi, eu vou. Geralmente os
pais, amigos e professores estão estimando o uso da terceira pessoa do
singular ao falarem com a criança: você pode, Pedro comeu tudo, nenê vai
e a criança responde “quer” em vez de “quero”, “comeu” em vez de “comi”
e “vai” em vez de “vou”.
Mais
importante do que a criança repetir palavras e saber nomear vários
objetos, é conhecê-los bem, saber para que servem, observar as
diferenças que existem entre um e outro. Isso só é conseguido quando a
criança tem oportunidade de explorar os objetos, manuseá-los,
aprendendo, assim, através de coisas reais e concretas. Por isso é bom
levá-la à feira, ao supermercado, jardim zoológico, passeios etc, para
que ela possa vivenciar cada uma dessas experiências.
Evite
falar com a criança colocando as palavras no diminutivo. Isso prejudica
a discriminação e piora a inteligibilidade. As palavras devem ser ditas
inteiras à criança e não separadas em sílabas (como, por exemplo,
ta-pe-te) achando que isso facilita a compreensão. Ao contrário, isso
dificulta a aprendizagem.
É
importante não corrigir a fala da criança e sim devolver o modelo
correto. Por exemplo: se ela diz “qué chupa lalanza”, você não deve
dizer “não é lalanza que se fala, é laranja”. Isso pode intimidar a
criança e ela pode passar a não falar determinadas palavras. Então,
responda assim: “Ah, você quer chupar laranja? Eu vou pegar a laranja”,
para que ela perceba e escute a pronúncia correta da palavra, mesmo que
não seja capaz de emitir corretamente. Os pais devem reforçar a criança
quanto à pronúncia correta das palavras, quando ela já tem consciência
dessa pronúncia.
Quando a criança
emprega poucas palavras para expressar uma frase, como por exemplo:
“água”, significando “eu quero água” ou “água caiu”, você pode expandir a
fala dela de acordo com o significado daquele momento. Se perceber que
ela está querendo água, dia “Você quer tomar água?”. Se ela derrubou a
água: “A água caiu no chão?”. Fazendo isso você está permitindo que a
criança perceba as formas mais complexas da linguagem. Depois, ela
aprenderá a juntar outras palavras para formar a sentença.
Procure
não subestimar ou valorizar demais a capacidade da criança, utilizando
uma linguagem adequada ao seu nível de compreensão. Assim, você poderá
lhe proporcionar melhores condições de aproveitar o que é ensinado.
Evite completar a frase que a criança irá dizer, antes que ela tente
colocar todo seu pensamento em palavras.
Leia histórias infantis, para a criança aumentar seu vocabulário.
Procure
ler à noite, antes que ela vá para a cama, pois se ela estiver
interessada em outra atividade, a leitura não será estimulante.
Use
sempre histórias simples, livros com ilustrações grandes e coloridas e
texto pequeno em cada página. Fale sobre a gravura, mostre os detalhes
enquanto lê, deixe-a identificar figuras de objetos e animais que ela
conhece.
Cante músicas infantis
para ela. Se possível, obtenha discos infantis, mas dê somente um de
cada vez, para que ela se acostume e se familiarize bastante com cada
um.
A discriminação auditiva dos sons da fala
Muitas crianças com Síndrome de
Down apresentam trocas na fala, como: b por p, d por t, v por f, g por
c. Como esses sons são parecidos, desde cedo é necessário um trabalho de
discriminação auditiva. Os pais devem mostrar para a criança que esses
sons são diferentes, falando-os em oposição em sílabas e início de
palavras.
Por exemplo: pato x
bato, tia x dia, faca x vaca. É importante criança discriminar e falar
esses sons (b, d, g, v), pois mais tarde essas trocas na fala também
aparecerão na escrita, dificultando a alfabetização.
É
necessário lembrar que crianças com Síndrome de Down na mesma idade
podem estar em níveis diferentes na aquisição da fala. A orientação do
fonoaudiólogo é fundamental na escolha dos sons que deverão ser
estimulados primeiro. Com esse auxílio os pais não perderão tempo
solicitando da criança sons muito difíceis, que ainda não podem ser
emitidos por ela. Além disso, os pais também podem ser orientados quanto
às variações aceitáveis, de acordo com o desenvolvimento da criança.
A importância da alimentação no desenvolvimento da fala
Os órgãos que usamos para comer
são os mesmos que usamos para falar: lábios, língua, dentes, palato,
etc. Por isso, a alimentação tem um papel importante no desenvolvimento
da fala. Através dela podemos exercitar e estimular a musculatura da
boca e da face, que participa da produção dos fonemas(sons) que vão
formar as palavras.
Assim, desde
quando o bebê suga o seio materno ou a mamadeira (com furo pequeno no
bico ortodôntico) os músculos estão sendo exercitados para a fala. O
bico ortodôntico é o ideal, pois permite que o aleitamento artificial
(mamadeira) fique mais parecido com aleitamento natural (seio) em
relação ao formato do bico e força de sucção (figura 1), ou seja, a
força que o bebê precisa fazer para sugar o leite. Por isso, não deve-se
aumentar o furo do bico para facilitar a sucção – o bebê precisa fazer
força para exercitar a musculatura.
É necessário ter cuidado
especial com alimentação da criança, não somente com o aspecto
nutritivo, como também com o aspecto nutritivo, como também com a
consistência dos alimentos. Varie bastante a alimentação quanto à
textura, sabor e temperatura. Quando chegar a época de introduzir a
papinha (por volta dos seis meses) ao invés de bater os legumes no
liquidificador, passe-os por uma peneira fina.
Antes
de aparecerem os primeiros dentes, você já deve oferecer pedaços
sólidos de alimentos à criança, como bolacha, pão, banana, queijo etc, e
colocá-los na mão dela. Quando aparecerem os primeiros dentes, ao invés
de dar frutas raspadas, como maçã, por exemplo, dê um pedaço grande da
fruta à criança, incentivando-a a morder e mastigar.
Por
volta de seis ou oito meses, a sopa deve perder seu aspecto líquido e
conter pequenos pedaços de alimentos: a verdura (crua ou cozida) deve
ser picada, as raízes e legumes ligeiramente amassados, a carne,
desfiada ou moída, o ovo cozido em pequenos pedaços de alimentos do
prato com as mãos, se ela assim o desejar.
Ao
dar o alimento para a criança, use uma colher e pressione a ponta da
língua para baixo e para trás (a colher deve entrar sempre de frente) e
faça com que a criança tire o alimento da colher com o lábio superior. A
criança deve ficar com a língua dentro da boca, quando a mãe ou ela
própria colocar a colher (figura 2). É comum a criança jogar a cabeça
para trás quando a mãe dá o alimento. Se isso acontecer, segure
firmemente a cabeça da criança, colocando sua mão bem acima da nuca,
impedindo o movimento.
A partir dos noves meses, você
pode tentar introduzir o canudinho para tomar líquido no copo. Para
facilitar, no início coloque pouco líquido, use canudo curto e vire um
pouco o copo para o líquido sair mais facilmente. O uso do canudinho
para a ingestão de líquido ou mesmo de alimentos mais pastosos (como
gelatina, vitamina de frutas) é um bom exercício para a musculatura da
boca e face.
Aos poucos, procure
ir retirando a mamadeira e introduza o uso de copo. No início, a mãe
deve ajudar a criança a usar o copo corretamente (não colocando o copo
em cima da língua e sim sobre o lábio inferior) e com o tempo ir
diminuindo essa ajuda (figura 3). Sempre que puder use canudo, mesmo que
a criança saiba usar o copo.
Por volta de um ano a um ano e
meio, deixe a criança usar a colher sozinha, ajudando-a apenas no
movimento de pegar o alimento do prato e levá-lo à boca. Ela poderá
derrubar os alimentos da colher, mas deixe-a tentar. Diminua a ajuda
gradativamente. O prato da criança deve ser de material resistente, de
borda alta e deve ficar bem seguro na mesa. Nessa fase, se oferecer
chocolate, bala ou banana, deixe a própria criança tirar o papel dos
doces e descasar a fruta.
Entretanto,
não esqueça que as crianças com Síndrome de Down têm tendência a
adquirir peso facilmente. Por isso, não se deve dar-lhes doces em
excesso.
Com a primeira dentição
completa por volta dos dois anos, a criança deverá comer alimentos mais
duros como carne (bife) ou cenoura pouco cozida, para exercitar a
mordida e a mastigação. Os pais poderão estimular a lateralização da
mastigação, colocando pedaços de alimentos consistentes entre os dentes
laterais e estimular a mastigação do lado direito e esquerdo, um de cada
vez.
É importante que a criança
não engula logo o alimento; brinque com ela de comer salgadinhos fazendo
barulho como os dentes laterais por bastante tempo.
Em
relação à deglutição, os pais podem ensinar a criança a fechar a boca
quando engolir o alimento, sem projetar a língua para fora.
Para
a refeição não se tornar cansativa, a mãe deverá incentivá-la a engolir
com a boca fechada somente na primeira “colherada” ou “garfada”, depois
deixá-la comer livremente. Você poderá no início de refeição espirrar
água, suco ou refrigerante com uma bisnaga na boca criança (com a língua
dentro da boca e embaixo) e depois pedir para fechar a boca e engolir.
As crianças gostam dessa “brincadeira” com a bisnaga, que propicia uma
deglutição correta.
É importante
para o desenvolvimento da fala e linguagem que a criança participe das
refeições com a família. Assim ela tem oportunidade de escutar o que
está se conversando e até participar, quando já souber falar. Por isso,
use uma linguagem clara e converse de assuntos que a criança conheça e
se interesse.
As principais dificuldades da fala
Notou-se que em alguns aspectos
do desenvolvimento da fala, a criança com Síndrome de Down é semelhante
às outras crianças, atingindo seu potencial um pouco mais tarde.
Geralmente,
o aparecimento da fala compreensível ocorre por volta dos dois anos.
Por volta dos três anos, a criança começa a combinar as palavras para
formar pequenas frases, e mais tarde é capaz de organizar essas frases
em trechos maiores. Mesmo quando há um bom domínio da linguagem, ainda
persistem dificuldades, quando é necessário um nível de abstração mais
elevado do diálogo.
Crianças com
Síndrome de Down têm um desenvolvimento variado e é grande a diferença
em relação à linguagem. Geralmente esse desenvolvimento é lento.
Muitos
processos complicados no cérebro estão envolvidos na habilidade para
falar. Se o cérebro não trabalha corretamente, aprender a falar torna-se
uma tarefa muito difícil.
Crianças com Síndrome de Down podem ter algumas características que as predispõem às dificuldades na fala:
■
Hipotonia: a flacidez dos músculos faz com que haja um desequilíbrio de
força nos músculos da boca e face, ocasionando alterações na arcada
dentária, projeção do maxilar inferior e posição inadequada da língua e
lábios – com a boca aberta e a língua para fora. A criança respira pela
boca, o que acaba alterando a forma do palato (céu da boca). Esses
fatores, dentre outros, fazem com que os movimentos fiquem mal
coordenados e a articulação dos fonemas fique imprecisa e prejudicada.
■
Suscetibilidade às infecções respiratórias: essas infecções levam a
criança a respirar pela boca, aumentando a dificuldade para articular os
sons.
■ Pouca memorização de
seqüência de movimentos: a dificuldade para aprender seqüência de
movimentos faz com que as crianças com Síndrome de Down pronunciem a
mesma palavra de vários modos diferentes. Cada vez que dizem uma palavra
é como se a estivesse falando pela primeira vez.
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